Excesso de ácido ascórbico utilizado em carne podre favorece formação de pedras nos rins e, possivelmente, câncer
Ao menos um dos frigoríficos investigados na Operação Carne Fraca comprava carne podre e disfarçava o sabor com ácido ascórbico, mais conhecido como vitamina C. Uma auxiliar de inspeção de uma das empresas atestou diversas irregularidades e afirmou que a substância química era cancerígena. A informação consta na decisão da Justiça Federal do Paraná.
De acordo com a professora de nutrição da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Anita Sachs, o ácido ascóbico, se consumido em excesso a longo prazo, pode provocar sobrecarga renal e, consequentemente, levar ao câncer.
— A quantidade máxima recomendada por dia é entre 45 e 50 mg. Isso é o que está presente em uma laranja, uma mexirica, uma fatia de mamão ou uma de manga, por exemplo.
Em contraposição, a chefe de equipe de Nefrologia e Transplantes da Beneficência Portuguesa de São Paulo, Irene de Lourdes Noronha, explica que as únicas evidências disponíveis na medicina são de que doses altas de ácido ascórbico diariamente — 1 ou 2 g — favorecem a formação de cálculos nos rins e canais urinários em quem já tem tendência para desenvolver esse tipo de problema.
— Como a calculose renal tem grande prevalência na população, o impacto do alto consumo de carnes com ácido ascórbico seria, sim, negativo.
Antônio Junqueira, nefrologista do Hospital São Luís, também reforça que a relação entre ácido ascórbico e formação de pedras nos rins é indireta.
— O que acontece é que o excesso de ácido ascórbico é absorvido pelos ossos e devolvido para o organismo em forma de cálcio. Esse cálcio vai para a corrente sanguínea e chega até os rins, onde contribui para a formação dos cálculos. Mas esse é um mecanismo indireto que depende muito da predisposição genética da pessoa.
Operação Carne Podre
A PF (Polícia Federal) está nas ruas do País nesta sexta-feira (17) para cumprir a maior operação da história da corporação. Chamada de "Carne Fraca", a ação mira a venda de alimentos adulterados e conta com a atuação de 1.100 agentes federais.
Eles cumprem 309 mandados judiciais em sete Estados brasileiros: São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás. Entre os alvos da PF, estariam executivos dos frigoríficos JBS, da BRF e da Seara.
Expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR), as ordens judiciais estão assim divividas: 38 de prisão (27 preventivas e 11 temporárias), 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em casas e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.
Após quase dois anos, as investigações identificaram uma organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio. Os agentes públicos suspeitos pertencem às Superintêndencias Regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás e atuavam diretamente para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público.
Fonte: R7
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